Papel de pão


Ao som de sepultura
sepulto cadernos mortos
frases de tortura atravessada
páginas sujas de gozo ao nada
loucura essa forca que acha força
miséria nos olhos é caviar
neguinho desce do morro
só pra luxar e dar
o que nem tinha era de outro
e ganhou nessa porrinha
aporrinhação é lucro e toco
sou amor e tó na minha
o vento levou e arrastou
feito arrastão no mar
e que mar de sexo
na maré das meias
sereias feitas de sal
e tal e coisa e total
inteira e verdade
em bronze fatal
nas placas das praças
e estátuas de petróleo
óleo é água
e não misturam a grana
mas a gana também sofre
essa mente urbana
fingindo subway suburbanes
pra todo freguês
no caos das diferenças
que nem difere o joio que é o trigo
nos zoios dos outros
aqui eu tenho pimenta e dou de graça
bota no cú quem quer
achar que isso é só pirraça
não sou palhaça e nem tenho circo
só armo o pau que quero
só amo se for num sincero
e tapas só de ouvir falar
no Chile se masca
e no México é libre também
mas tó falando de receitas
e não é federal sou onça
e minha pele anda em Museus
no primeiro mundo
a mata e a zona também
amazonando as mentes
muito quente, quente e quente
sou Brasil aqui tudo é tropical
mas a natureza é haikai
equilíbrio é samba
e Henfil também é bamba
no clássico e no forró
meu pingo sempre dá nó
mas fluente e livre
também em Cuba
e Fidel vive e dança Rumba
todos de mãos dadas
cada um do seu jeito
sem fila indiana
a cobra eu encanto
sou cobra no meu canto
os ratinhos eu soprei
e eles me alimentaram
minha flauta é doce
e não custa caro
uma vez quebrei na cabeça de um cara
filho de fazendeiro, se fudeu!!
com sua tradição pelada e tara
essa rima já morreu
na mente agora é ato
sem atuação é fato
andar na contra mão
é nato ter coração
evolução é beber coca cola
acho que tó de abstinência
só chupei uma bala
com aquela velha prata
dos anos 50 era de Juscelino
que no carro foi ao céu
bebendo a cajuína desde menino
e tinha aquele cabo madre pérola
no coldre que brincava no quintal
repetir a rima é normal
não a sina isso é fatal
como bolacha e biscoito
e sou a ultima a fazer
meu biscoito é natural
leva aveia com banana
e muito açúcar
sem perder a doçura
como mesmo tudo
e não tenho frescura
sou um pouco feita 
de mocotó, geleia
e raspo todo o ossinho
no meu pratinho
de sobremesa chouriço
doce forte nunca omisso
verdadeira tradição nordestina
a castanha é a cereja dessa menina
não é portuguesa mas é certeza
vários talheres na mesa
mas arte está nas mãos limpas
a força da natureza
dá uma pinta
meu mundo é ostra aberta
com ou sem pérola
porque negritude é atitude
Eva não marola
não morre na areia
escarola não é ceia
mas grão é proteína
o feijão com arroz
é tese nos trópicos
desde os espelhos
o índio resiste
com abundância
a terra agradece e existe
apesar dessa mudança
estamos sentados nesse berço
de ritmos e frequências
vamos cuidar uns dos outros
preservando as consciências.
- Iatamyra Rocha 

"Que maravilha é ninguém precisar esperar
um único momento para melhorar o mundo."
- Anne Frank




 

Comentários

Suzana Martins disse…
O que falar dos teus versos?? Nada!! Apenas sinto!!! Deixo o ritmo tocar e, pronto! Fico aqui absorvendo as tuas palavras...

Amei!!!

Ps.: amo essa música. muuuuuito!!

Beijos lindona!!

Bom FDS!!!
Iatamyra disse…
Obrigada Suzana seu movimento aqui é de puro verso, música de todos os ritmos,ouço sempre suas marés e nesse mar de poesia todos somos navegantes. Bjs

Postagens mais visitadas deste blog

As mãos

Madrugadas

deja vu