A mulher

Tela: "Mulher e lago" de Hassan


Ontem era transparência de tule
bailava o tempo de morrer para longe
distante das folhas que ardem e iludem
num bailar ardoroso no mar de hoje

Era moça e acreditava na flor eterna
deixava a ternura envolver os espinhos
feito pedra na caverna
e pássaro no ninho

Sabia das miudezas das conchas
o som do mar trazia areia aos cabelos
antes do canto pousar
dedilhando zelos

A fruta madura era ao alcance das mãos
ouvia a vontade antes da razão
aos poucos os véus se vão
frente as marcas da vida
e as feridas do coração

Quão leve seria rima
se todo momento arrimasse e arribasse voos


A sina da mulher é se quebrar feito ondas
sendo mar infinito que a natureza de Deus sonda.
Iatamyra Rocha

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"Modelagem/Mulher"
Henriqueta Lisboa

Assim foi modelado o objeto:
para subserviência.
Tem olhos de ver e apenas entrevê.
Não vai longe seu pensamento cortado ao meio pela ferrugem das tesouras.
É um mito sem asas, condicionado as fainas das lareiras. Seria um cântaro de barro afeito a movimentos insipientes sob tutela.
Ergue a cabeça por instantes e logo esmorece por força de séculos pendentes.
Ao remover entulhos leva espinhos na carne.
Será talvez escasso um milênio para que de justiça tenha vida integral.
Pois o modelo deve ser indefectível segundo as leis da própria modelagem.

in Pousada no ser (1982)


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